Dá para acreditar que em 2013 o governo batizou um projeto de R$ 437 milhões de Programa Asfalto Novo? Como conceber que, em menos de três anos, essas pistas estejam esfarrapadas? O material era massa de modelar? As obras foram superfaturadas?
Essas são algumas das perguntas que a partir de hoje (3/2), o Metrópolesvai atrás das respostas para lhe informar. Mas decidimos expandir a nossa denúncia para além das palavras. Buscamos, por meio da arte, tentar sensibilizar o governo para essa epidemia asfáltica que se tornou a proliferação dos buracos na capital da República.
O Metrópoles convidou artistas de rua para o projeto #bsburaco. A proposta é transformar em arte a raiva, a frustração, o sentimento de impotência e a indignação que sentimos todas as vezes que caímos no buraco. A ideia foi inspirada em iniciativas de intervenção urbana como meio de protesto. Em 2013, por exemplo, o projeto #buraqueira da revista Veja São Paulo apontou 50 crateras na capital paulista. No DF, participam do projeto os artistas de rua Ju Borgê, Toys, Omik, Yong, Siren, Gurulino e Rato.
“Todo mundo tem ódio quando cai em um buraco, até porque sente seu dinheiro afundando”, diz Daniel Toys, que deu cara a uma cratera ao lado do Eixo Monumental, próxima à Catedral, cartão-postal de Brasília.
A artista Ju Borgê mora próximo às vias esburacadas que ela coloriu na madrugada de terça (2/2). Ju abriu mão de sua noite de sono para dar a sua contribuição ao projeto. Seu traço é reconhecido por ser fofo, aliás, muito fofo. Mas sobre os problemas no asfalto, ela fez questão de marcar: “Esse buraco não é fofo”. Quem estiver a caminho do Núcleo Bandeirante e passar pela Candangolândia vai ver o grafite dessa brasiliense impresso no asfalto.
“A arte é uma maneira de despertar a curiosidade das pessoas para esse problema tão repetitivo. Elas podem ver o buraco e se perguntar: por que isto está assim?” Ju Borgê
Ju Borgê pinta buraco na Candangolândia
Mikael Omik usa um ateliê na 305 Norte onde planeja a arte que pinta nos muros. Desta vez, ele horizontalizou suas grafitadas e pintou o chão da L2 Norte, na altura da 413 Norte, próximo ao Parque Olhos D’água. E fez nascer uma de suas meninas ruivas, tema recorrente em seu trabalho. O detalhe é que na mais recente obra de Omik, as vísceras da boneca ruiva estão expostas, justamente onde está a cratera.
Daqui em diante, os artistas parceiros do Metrópoles vão colorir os buracos que encontrarem pela frente. Todos os dias novos desenhos coloridos vão brotar no chão da capital até o dia em que o governo passe um piche definitivo nesse problema. Esperamos que essa arte fique eternizada apenas em nossos registros fotográficos.
Colaborou João Gabriel Amador
Fonte: http://www.metropoles.com