O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, informou que o governo pretende dobrar o percentual de cargas transportadas por trens nos próximos oito anos. A declaração foi realizada na última semana, quando falou que a expectativa é aumentar a participação do modo de transporte ferroviário de 15% para 29% no país até 2027. Enquanto em outros estados brasileiros o modal de transporte é o principal, no Rio Grande Sul as ferrovias seguem defasadas e o transporte de cargas ainda é priorizado pelas rodovias.
Para o professor do curso de Logística da Universidade de Passo Fundo (UPF), André Oscar Rieth, ao potencializar a utilização do modal ferroviário será necessário, ao mesmo tempo, ter uma visão ampla de todos os outros tipos de transportes, entendendo a função complementar de cada um deles. “A gente precisa de todos os cinco modais trabalhando com inteligência”, diz. “Quando a gente aumenta a quantidade de transporte ferroviário, na verdade, o que está mudando não é apenas a questão modal, estou mudando o perfil da viagem. Se ao invés de 30 vagões de combustível, chegar 60 eu também vou precisar de mais caminhões aqui na ponta para distribuir”, exemplifica.
“Os caminhões vão ser retirados das viagens de longo curso e vão ser colocados nas pontas, porque a mercadoria só vai para o trem, pelo modal rodoviário, e sai do trem nos portos ou pelas rodovias também. Então, quando você incrementa a quantidade de transporte ferroviário, você não tirou de outro modal, porque nas pontas continua necessitando”, acrescenta.
Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), em 93 anos a malha ferroviária do país aumentou apenas 1,5 mil quilômetros. Dos 29 mil km de extensão do sistema ferroviário em 1922, o Brasil passou para 30.576 km em 2015. Por outro lado, a frota de veículos utilizados para transporte de cargas, entre caminhões, reboques, semi-reboques e utilitários totaliza 1,7 milhão de unidades.
A descontinuidade de projetos de governo é vista como um dos grandes entraves para o desenvolvimento dos modais de transporte. “O pessoal entra, cria um plano, acaba não se concretizando, ai troca governo, cria outro plano, e os planos não tem um prazo. O projeto não tem que ser de uma gestão, tem que ser do país”, fala, destacando a necessidade de um novo processo de concessão de ferrovias.
Desafios no RS
No caso do Rio Grande do Sul, Rieth considera o Estado bastante defasado no que se refere à multimodalidade. “Hoje, no Brasil, o transporte rodoviário está em torno de 60% e no Rio Grande do Sul passa de 85%. A gente está atrasados em relação ao próprio país”, fala. Para ele, potencializar o modal ferroviário será um processo ainda mais demorado no Sul do que em outras regiões do país.
Um dos desafios diz respeito à desativação de malhas ferroviárias. “Um dos maiores problemas foi a maneira com que foi feita a privatização das ferrovias. Ficou tudo na mão de uma única empresa e ai ela foi desativando”, diz, citando a desativação da linha entre Passo Fundo e Erechim. “As linhas foram escasseando ao longo dos anos, então, por mais que se abram novas frentes, ou que daqui a pouco se torne uma realidade a Ferrovia Norte/Sul, mesmo assim não consigo vislumbrar que em um curto espaço de tempo consiga descentralizar tanto do rodoviário a dependência”, diz.
Para o professor, a região Norte do Estado deve ser vista como um local estratégico do ponto de vista logístico. “A cidade de Passo Fundo está bem no meio do caminho dos dois maiores polos econômicos da América do Sul: São Paulo e Bueno Aires”, diz. “A gente percebe essa importância pela quantidade de empresa que instalaram centros de distribuição ou indústrias aqui na região”. Ele considera que a facilidade na distribuição dos produtos e também a localização dos portos do sul do Brasil em relação ao município tenham colocado toda a região Norte em destaque.
Para os próximos anos, Rieth alerta para a necessidade de duplicação das rodovias BR 386 e BR 285. “Uma quantidade muito grande de carga transita aqui por Passo Fundo, passando por Carazinho e Panambi vindo do centro do país e indo para a Argentina e o Chile. Então, o futuro passa pela duplicação dessas rodovias de uma maneira urgente”.
Fonte: Revista Ferroviária