Uma nova safra recorde de milho e algodão começou a ser colhida e deve avançar a produção em junho e julho. Além do fator produtividade e a cotação dos produtos, uma das dúvidas é saber se o Estado de Mato Grosso terá infraestrutura e logística suficiente para escoar a safra atual até aos mercados consumidores da Ásia e Europa, entre outros destinos.
Todo ano, empresários do setor, produtores e governos têm dificuldade de criar condições para transportar grãos, oleaginosas e fibras. Para se ter uma noção, o último levantamento da (Conab) Companhia Nacional de Abastecimento, divulgado pela mídia semana passada, mostra que a safra total de 2018/2019 será de 66,36 milhões de toneladas, um crescimento de 7,5%. Em todo o Brasil, a produção atingirá 238,9 milhões de toneladas. Mato Grosso detém 28% da produção nacional. A pergunta que não quer calar é se veremos filas de caminhões em terminais, como o Multimodal de Rondonópolis, Alto Araguaia (eixos ferroviários) e em armazéns de empresas.
Uma outra vertente apontada por dados do Ministério da Economia mostra que Mato Grosso praticamente dobrou suas exportações de algodão em relação a 2018, se considerado o período janeiro a maio. Neste ano, os negócios externos somaram 447,96 mil toneladas de fibra exportada pelo Brasil no intervalo dos cinco meses. O Estado representou 66,17% das exportações do país, com 296,43 mil toneladas entre os mesmos meses. A China, em guerra comercial com os Estados Unidos, importou 80,94 mil toneladas. Já a Indonésia adquiriu 54,30 mil toneladas – sendo estes dois países asiáticos responsáveis por 45,62% da exportação de plumas de Mato Grosso. Na safra 2018/2019, o Estado produzirá 1,846 milhão de toneladas de algodão em pluma, ou seja, 35,4% a mais em relação ao ciclo agrícola passado.
A tendência apontada pelo (IMEA) Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária é que pelo menos três fatores – o impasse comercial EUA-China, a demanda de países asiáticos e a produção recorde da safra 2018/2019 de algodão – devem alavancar níveis nunca atingidos de exportação da pluma mato-grossense, maior produtor do Brasil. Não é preciso reforçar que é essencial a logística de volumes em grande escala, como ferrovias, para levar os produtos ao exterior. Os preços crescentes da pluma e o crescimento da área de plantio do algodão em todos os estados impactaram o crescimento da produção.
No caso do milho, Mato Grosso já exportou 4,922 milhões de toneladas, resultado extraordinário para o período de janeiro a maio deste ano. Em 2018, nos 5 meses, foram 3,791 milhões de toneladas. O porto de Barcarena, no Pará, com 1,341 milhão de toneladas, já é a segunda rota de exportação do milho mato-grossense este ano, de janeiro a maio, na chamada logística pelo Arco Norte, o que reforça a necessidade da implantação da Ferrogrão e da construção e interligação da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO) com a Ferrovia Norte-Sul.
Por isso, o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Freitas, debateu na sexta (14), em Água Boa, a necessidade da FICO em audiência pública. Quanto à estimativa de produção do milho na safra 2018/2019, o IMEA calcula em 30,445 milhões de toneladas em Mato Grosso, outro recorde, com ampliação de 10,38%, e equivalente à máxima produção já colhida no Estado em 2016/2017, de 30,451 milhões de toneladas.
O que pode mitigar o escoamento da produção é que, no caso do milho, a commodity será consumida internamente em Mato Grosso, com o início da operação de fábricas de etanol, esse fator abre uma janela de oportunidades de negócio ao produtor, segundo o IMEA, além da demanda para o confinamento de bovinos. Mas, não alivia a falta de armazenamento e eficiência dos modais para o fluxo dos produtos.
Entretanto, de novo vem a preocupação: terá Mato Grosso resolvido seus gargalos de logística para “tirar a safra da lavoura?” Há sinais positivos no radar para responder. Mas, os projetos têm que ser efetivados de verdade. Porém, de olho no campo nos últimos 6 meses foi possível verificar a construção de armazéns nas áreas produtivas. Ademais, a expansão da produção está ligada ao uso de áreas de pastagens ou degradadas. Esse volume todo cada vez maior de produção para ser transportado adequadamente depende, de novo, dos eixos ferroviários planejados, como a Ferrovia Norte-Sul, a FICO e a Ferrogrão.
Para efeito de comparação, há 10 anos Mato Grosso produzia 28,3 milhões de toneladas de grãos, fibras e oleaginosas, segundo a Conab. E veja que no início do artigo citei que a previsão para 2018/2019 é de 66,36 milhões de toneladas, dado da mesma Conab. Ou seja, mais do que dobramos em 10 anos a produção. E mesmo com rodovias ruins, e eixo ferroviário incompleto, e sem hidrovia, a safra é escoada, a duras penas. Imagine com maior produção de soja, algodão e milho a cada safra diante da demanda que se apresenta nos próximos anos?
Por isso, defendemos, desde o início do ano, quando publicamos neste espaço nosso primeiro artigo, um debate em que todos, empresários, governantes, parlamentares e agências reguladoras fixem seu foco na melhoria e na adequada infraestrutura capaz de dotar Mato Grosso com suporte para sua produção agrícola, com melhor condição para produtividade, competitividade exterior e, por consequência, melhor geração de emprego, tributos e renda. Mato Grosso tem pressa na infraestrutura e logística!
Welyda Cristina de Carvalho é advogada, pós-graduada em Direito Processual Civil pela FESMP/MT, fez intercâmbio em Sunshine Coast, na Austrália, e atua no direito do agronegócio. E-mail: carvalhojuridico1@gmail.com / Instagram: @welydacarvalho.
Fonte: RD News