Levantamento anual avalia defeitos de superfície, como trincas, buracos, afundamentos e desgaste. Em 2019, cerca de 901 km estavam ruins ou péssimos
Buracos, sinalização inadequada e vegetação invadindo a pista. Esses são alguns dos problemas encontrados em rodovias cearenses por quem passa por elas todos os dias ou pelo menos uma vez na semana. Um estudo da consultora Engevias para a Superintendência de Obras Públicas (SOP) identificou, entre agosto e outubro de 2019, que 2.372 km das rodovias pavimentadas e sob jurisdição do Estado, as CEs, apresentam algum problema.
O número é a somatória das vias consideradas regulares, ruins e péssimas. Em contraposição, 5.785 km foram diagnosticados como em boas condições para o tráfego. Quintino Vieira, superintendente de Obras Públicas, explica que são consideradas boas aquelas rodovias “que a população possa usar com velocidade até o limite permitido pela lei”, já as estradas consideradas regulares “também podem ser usadas com velocidade, mas não dão um conforto”.
“Hoje acho que os números estão um pouco maiores, mas segundo o estudo nós temos 88,95% de estradas viáveis de se rodar no Ceará, somando as boas e regulares”, enfatiza. Atualmente, todas as rodovias que cruzam o Ceará, sejam elas federais, estaduais ou municipais, totalizam 55.952 quilômetros. Destes, 11.942 km são responsabilidade do Governo estadual, 2.556 km da União e 38.573 km dos municípios.
O superintendente argumenta que “estrada não é só a construção”. “Uma coisa que prejudica muito são caminhões que trafegam com peso acima do que deve ser colocado na estrada. E aí o pavimento que é para ter 7, 8 anos de vida passa a ter 2, 3 anos.” A situação piora quando chega o período de chuvas mais intensas. Segundo Vieira, o trabalho de conservação tem sido desenvolvido em parceria com fiscalizações do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Caminhões que circulam pelas estradas cearenses estão sendo pesados, e veículos com carga acima do permitido são notificados e podem ser apreendidos.
Quanto à qualidade dos pavimentos, o professor Jorge Soares, coordenador do Centro de Tecnologia em Asfalto Norte/Nordeste da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que ainda são utilizadas — não só no Ceará, mas em todo o País — normas desatualizadas, o que tem impacto na durabilidade. Mesmo existindo atualizações feitas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), elas não são aplicadas.
Uma das normas atualizadas, a 180/2018 – ME, fala sobre a propriedade de adesão nas misturas asfálticas. “Chama-se dano por umidade induzida. Já existe normativa para isso, por que o Ceará não utiliza? Isso afeta diretamente a questão de quadra chuvosa, porque eu só aprovaria determinadas misturas asfálticas se elas tivessem a adesividade devida entre o asfalto e o agregado. Então, em época de chuva, não descolaria tão facilmente”, exemplifica.
Desde setembro de 2019, o Centro realiza, em parceria com o Governo do Estado, um trabalho de acompanhamento de rodovias sob coordenação da Superintendência. Procurada pelo O POVO, a SOP afirmou que analisa a adoção das normas, mas não informou prazos.
A Pasta afirma que, anualmente, realiza o Levantamento Visual Contínuo e cadastra os defeitos de superfície de acordo com a extensão e a severidade. O estudo é realizado por um engenheiro a bordo de veículo equipado com câmeras de alta resolução, apontadas para o horizonte (fotografia panorâmica) e para o pavimento, GPS e hodômetro. São levados em consideração trincas, desgastes, afundamentos, buracos e remendos.
Um dos problemas de rodovias deterioradas é o maior risco de acidentes. “Se tenho uma rodovia que tem um trincamento que eventualmente evolui para um buraco, para problemas maiores, passo a ter uma rodovia com menos segurança para trafegabilidade”, afirma o professor. Dados da Polícia Rodoviária Federal contabilizam 1.516 acidentes nas BRs do Ceará em 2019; 72 deles causados explicitamente por defeitos na via, dos quais 59 resultaram em vítimas feridas.
Além disso, Soares aponta o impacto financeiro da deterioração prematura. “Você faz um projeto para durar dez anos e ele dura um ou dois anos — o que não é incomum, por conta de uma normativa inadequada. O risco é de o contribuinte ficar gastando esse recurso, enquanto ele poderia estar economizando”, afirma. “Não necessariamente o projeto e a construção vão ser mais baratos (com a adoção de normas mais recentes), mas o ciclo de vida útil do pavimento será mais prolongado.” (Colaborou Gabriela Custódio)
Custo
Em 2019, estima-se que houve um consumo desnecessário de 931,8 milhões de litros de diesel devido à má qualidade do pavimento nas estradas brasileiras. Esse desperdício custou R$ 3,30 bilhões aos transportadores, diz a pesquisa CNT de Rodovias.
Brasil
A qualidade das rodovias brasileiras piorou no último ano. É o que mostra a 23ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias, divulgada pela Confederação Nacional do Transporte e pelo SEST SENAT em outubro de 2019. O estado geral apresenta problemas em 59% da extensão dos trechos avaliados. Em 2018, o percentual foi 57%.
R$ 400 milhões devem ser investidos ainda no primeiro semestre
Em julho do último ano, o Governo estadual lançou o Pacote de Recuperação de Estradas contemplando mais de 1.730 km de rodovias a serem recuperadas. De acordo com a Superintendência de Obras Públicas (SOP), 675 km foram concluídos e outros 600 km estão em execução a um investimento total de mais de R$ 200 milhões. Para 2020, a previsão é de investir R$ 400 milhões na duplicação, pavimentação e restauração de 400 km rodoviários.
O superintendente de Obras Públicas, Quintino Vieira, explica que tais ações fazem parte de uma recuperação funcional que tem o objetivo de estender a vida útil projetada das rodovias a um custo menor que a restauração. “Essas ações podem ser profiláticas ou de reabilitação e acontecem quando o pavimento começa a apresentar degradações de menor severidade (em média, de 7 a 9 anos após a realização da obra) resultando numa ampliação da expectativa de vida do pavimento de 3 a 5 anos.”
Os trechos contemplados normalmente possuem menor demanda de serviços de terraplenagem ou de alteração da geometria da rodovia, o que, segundo a Pasta, torna a obra mais rápida e barata. Os principais serviços realizados são o recapeamento asfáltico, aplicação de microrrevestimento e intervenção na base em segmentos críticos. Entre as obras que devem iniciar em 2020 está a restauração da avenida Washington Soares (CE-040), entre o Palácio Iracema e a entrada para o Cambeba.
A avenida está entre os trechos em processo licitatório na Procuradoria Geral do Estado (PGE) e deve ser a próxima obra rodoviária estadual. Outras intervenções em licitação são o restauro da CE-257, ligando Canindé a Salitre, e da CE-358, entre Limoeiro do Norte e Flores. A lista ainda inclui a pavimentação da CE-187 entre Crateús e Realejo e da CE-243, de Uruburetama a Itapajé.
Entre 2015 e 2018, foram investidos R$ 1,61 bilhão em obras de “mais de 1.900 km de rodovias”. Já em 2019, foram concluídos aproximadamente 375 km de rodovias a um investimento em torno de R$ 310 milhões. A Superintendência afirma que “continuará realizando os serviços de recuperação funcional e conservação rotineira”, trabalhando não só nas rodovias que tiveram avaliação ruim, “mas também pensando de forma global e sistêmica junto com o Governo do Estado, adotando técnicas de vanguarda que possibilitem a melhor alocação de recursos físicos e financeiros”.
As rodovias devem ser avaliadas com continuidade. Feitos semestral ou anualmente, por exemplo, estudos como o Levantamento Visual Contínuo, realizado no último mês de setembro pela consultora Engevias, podem levar à criação de “curvas de evolução de dano”. Conhecer essa informação é importante, segundo o professor Jorge Soares, coordenador do Centro de Tecnologia em Asfalto Norte/Nordeste da Universidade Federal do Ceará (UFC). “Até dispomos de muita informação, mas ela ainda não está consolidada de forma a permitir um conhecimento da evolução dos danos dos aproximadamente 10 mil km de rodovias no Estado do Ceará sob a jurisdição do Estado”, afirma. (Colaborou Gabriela Custódio).
Curso
20 a 25 de janeiro
Macapá – AP
Terraplenagem, Pavimentação e Restauração de Rodovias e Vias Urbanas
Fonte: Jornal O Povo